Por que onça atacou trabalhador no Pantanal de MS?
08/10/2025
(Foto: Reprodução) Homem sofreu ataque de onça no Pantanal neste sábado (4)
O ataque de uma onça-pintada a um trabalhador no Pantanal de Mato Grosso do Sul é o segundo caso envolvendo o felino neste ano no estado. Flávio Ricardo do Espírito Santo, de 28 anos, foi atacado por uma onça no último sábado (4), enquanto voltava do manejo do gado em uma fazenda no Pantanal do Paiaguás, em Corumbá (MS). Ele está internado na Santa Casa de Campo Grande, passou por cirurgia e está fora de perigo, segundo a família.
O g1 conversou com especialistas para entender os possíveis motivos que levaram o felino a atacar o homem. Para o Coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Rogério Cunha de Paula, não é possível determinar com exatidão o real motivo do ataque.
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Contudo, o especialista destaca que as avaliações técnicas apontam o comportamento do felino como uma resposta a uma situação em que o animal se sentiu ameaçado.
"O ataque não ocorreu pelas costas e foi uma resposta da onça a um incentivo negativo, ou seja, pode ter sido provocado pela aproximação [do trabalhador] a uma carcaça, por exemplo. É uma resposta da onça por causa dessa aproximação ou porque se sentiu ameaçada. A intenção não foi de matar, e sim de repreender, por isso que os ferimentos são arranhões e não mordidas", explica Rogério.
Conforme o Corpo de Bombeiros, Flávio passava próximo à carcaça de um animal quando foi surpreendido pela onça. A esposa do homem, Sandra Coelho da Silva, disse aos bombeiros que ele voltava do manejo do gado na fazenda onde trabalha e que estava em cima de um cavalo quando foi atacado.
O biólogo Henrique Abrahão Charles também indica que o ataque foi, na verdade, um comportamento de defesa do felino.
"Os pantaneiros têm conhecimento de que há três situações que as onças atacam e eles não devem chegar perto maneira nenhuma. A primeira é de uma onça que pariu, a segunda é de onças no período de acasalamento, já que o macho fica muito violento e, a terceira, quando a onça está protegendo o alimento, está protegendo a carniça", comenta Henrique.
Infográfico - local onde homem foi atacado por onça em MS
Arte/g1
Ataques
Segundo o biólogo Henrique Abrahão Charles, o caso do ataque a Flávio é o oitavo registrado no Pantanal em 20 anos. O mais recente, do caseiro Jorge Ávalo, de 60 anos, que morreu em abril deste ano, é considerado como predação, e, por isso, diferente do registrado contra Flávio, conforme explica Henrique.
"Dos grandes felinos, a onça-pintada é a que menos ataca, segundo estudos específicos. Para termos ideia, os ataques de onça-pintada são de 0 a 5 ataques anuais, no mundo inteiro. Apesar de raros, esses ataques [de onça] podem acontecer", comenta.
O representante do ICMBio explica que os casos de Flávio e Jorge são diferentes. O do caseiro que morreu envolveu a prática de ceva. Já do peão, mais recente, está relacionado a um comportamento de defesa da onça.
"O ataque não foi pelas costas, pelas marcas que ele tem. Pelas imagens, conseguimos identificar que foi uma resposta a um incentivo da onça, um incentivo negativo muito diferente do ataque do Jorge, que foi um ataque não provocado. Este ataque mais recente foi provocado, a provocação pode ter sido por parte das pessoas ou pode ter sido por um evento que aconteceu com uma aproximação de uma carcaça", detalha Rogério Cunha de Paula.
O especialista explica que a aproximação de Flávio pode ter ultrapassado o limite que a onça tolera ou, então, "a intenção do animal, nesse caso, não foi matar, e sim advertir. Por isso os ferimentos são superficiais, com arranhões, e não mordidas profundas", pontuou Rogério.
Vítima foi encaminhada para Campo Grande, em razão da gravidade das lesões.
Corpo de Bombeiros