'Câmeras são os arcos e flechas da atualidade': às vésperas da COP30, produções culturais indígenas mostram que luta pelo planeta é de todos

  • 08/10/2025
(Foto: Reprodução)
'Câmeras são os arcos e flechas': produções indígenas mostram que a luta 'é de todos' "Nosso povo acreditava que as câmeras roubavam a alma, mas hoje são os nossos arcos e flechas", disse a ativista indígena de Rondônia Txai Suruí em painel organizado pelo Festival do Rio. A um mês da COP30, conferência climática global cuja edição deste ano será realizada no coração da Amazônia, a produtora executiva do documentário “Minha Terra Estrangeira”, em exibição no festival, avalia ser preciso que o encontro seja responsável pela "implementação" dos acordos já firmados. Diante da proximidade da conferência, a liderança do povo Paiter Suruí questiona qual será a real participação dos povos indígenas no debate e destaca a produção artística como ponte para o diálogo sobre a emergência do clima. Ela foi a única brasileira convidada para participar do Grupo Consultivo da Juventude da ONU, formado para aconselhar o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres. ‘Demarcar a tela para demarcar o território’ Em meio às discussões sobre mudança climática, Txai, que já se considera “artista”, diz ser preciso entender que a luta pela preservação do planeta não pertence apenas aos povos originários, uma vez que as consequências afetam a todos. Para a ativista, em um contexto político no qual é preciso entender novas formas de diálogo com as pessoas, dentro e fora das aldeias, o audiovisual é uma ferramenta facilitadora. “O audiovisual, a arte e as câmeras em si podem ser instrumentos de luta, não só para denunciar o que vem acontecendo dentro dos territórios indígenas, mas também proteger e fortalecer a nossa cultura” O filme documental “Minha Terra Estrangeira”, dirigido pelo Coletivo Lakapoy, Louise Botkay e João Moreira Salles, acompanha a reta final da campanha eleitoral do cacique Almir Suruí, liderança do povo Paiter Suruí e pai de Txai, como candidato a deputado federal de Rondônia em 2022. A ativista também foi produtora executiva de “O Território”, documentário sobre a luta do povo indígena Uru-Eu-Wau-Wau que entrou na pré-lista do Oscar 2023. Txai Suruí no documentário "Minha Terra Estrangeira" Reprodução O protagonismo indígena na frente e atrás das câmeras é a marca de ambos os trabalhos, mas a produção nesses moldes ainda esbarra em obstáculos. Um deles é o financiamento. O outro é a falta de oportunidades, segundo Txai, que destaca a dificuldade de artistas indígenas de obterem acesso a editais e inserirem-se na indústria cinematográfica. Ao g1, o fotógrafo e ativista Piratá Waurá, que dirigiu o curta-metragem “Replika”, também em exibição no Festival do Rio, afirmou que a importância de aprender a usar as tecnologias dos “não-indígenas”, como as câmeras filmadoras, é que os povos possam contar as suas próprias histórias. Além disso, pode ajudar quem está de fora a entender como é a vida nas aldeias e nas florestas. “Demarcar a tela é demarcar o território”, ele defendeu. “Toda vez que a gente grava, a gente registra nossas culturas, as danças, nossa família, e tudo isso vem da natureza. E assim a gente vai conquistando um espaço de reconhecimento da luta e do conhecimento ancestral." Piratá Waurá, professor, fotógrafo e ativista, comparece ao Festival do Rio 2025. Festival do Rio / Davi Campana O fotógrafo argumenta, no entanto, que apesar da riqueza do material-base, há dificuldade em compor equipes para trabalhar na produção do conteúdo, além da questão financeira. Tanto Piratá como Txai reconhecem o próprio privilégio em relação aos seus pares, já que poucos indígenas possuem a oportunidade de estar em um festival de cinema. COP30, participação indígena e demandas As COPs são hoje o principal espaço de negociação e decisão sobre o clima no mundo. Conhecida internacionalmente por discursar na abertura da COP26, no Reino Unido, Txai entende que a demarcação e a proteção das Terras Indígenas (TI) é um dos principais temas que precisam ser discutidos na conferência deste ano, que ocorre em novembro em Belém, no Pará. “É dentro dos territórios que a floresta ainda está de pé”, diz. Única indígena a discursar na Conferência do Clima da ONU em 2021, Txai Suruí vai representar SP em comitê da ONU sobre mudanças climáticas Reprodução Nos últimos trinta anos, as TIs perderam apenas 1% da floresta nativa, enquanto áreas privadas perderam 20% no mesmo período, segundo o Observatório do Clima. Os territórios armazenam 12 bilhões de toneladas de carbono, que ajudam a regular o clima e evitam a emissão de gases de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global. Visando a conservação da natureza, o Brasil pretende lançar, na COP 30, o Fundo de Financiamento para Florestas Tropicais (TFFF), com a expectativa de captar mais de US$ 100 bilhões para recompensar países que conseguirem reduzir o desmatamento. O projeto é finalista do maior prêmio ambiental do planeta, o EarthShot Prize. Entre as propostas que devem ser apresentadas no evento por povos originários, há o plano inédito de enfrentamento da crise climática baseado na vivência e na ciência das comunidades elaborado por pesquisadores indígenas de Roraima. A cientista Sineia do Vale, enviada especial à COP30 e referência mundial nas discussões climáticas, vai propor que a demarcação seja reconhecida globalmente como política climática. A expectativa é que a COP deste ano tenha a maior participação de povos indígenas da história. Segundo a ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sonia Guajajara, três mil membros dos povos originários são esperados nos debates da conferência. Ao g1, Txai questiona qual, de fato, será a participação indígena, no sentido de não somente “estar lá dentro, mas realmente sermos ouvidos, estarmos na mesa de discussão”. Ativista indígena Txai Suruí participa do Festival do Rio de 2025 como produtora executiva do documentário "Minha Terra Estrangeira" Festival do Rio / Davi Campana As demandas dos povos originários vão além da COP30, mas Txai constata que há “uma grande dificuldade dentro do nosso próprio país”, referindo-se ao Congresso Nacional. Pautas como a tese do marco temporal, que define que indígenas só podem reivindicar a demarcação de terras que já eram ocupadas por eles na data de promulgação da Constituição de 1988, e mais recentemente, o projeto de lei que enfraquece o licenciamento ambiental, são alvos de protestos por povos indígenas e ambientalistas. Um dos pontos de crítica do texto aprovado pelos parlamentares é a desproteção das comunidades tradicionais, já que terras indígenas e territórios quilombolas não homologados deixam de ser considerados áreas protegidas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva retirou o trecho do projeto e o veto está sendo analisado pela Câmara. “Isso para mim mostra a necessidade de colocar mais pessoas indígenas dentro do Congresso para dialogar sobre essas pautas também. Não somente em questão de representatividade, mas porque os povos indígenas têm grande exemplo de lideranças. Para nós, os líderes têm que ser a pessoas que escutam a sua comunidade”. O fotógrafo Piratá Waurá, que vive na Terra Índigena do Xingu, esclarece que, além da necessidade da demarcação, as comunidades locais do Mato Grosso também pedem a criação de um corredor ecológico para proteger os rios. COP30 – Futuros Possíveis no Festival do Rio A programação especial COP30: Futuros Possíveis do Festival do Rio acontece de 2 a 12 de outubro com sessões gratuitas de 30 longas-metragens, mesas-redondas, painéis e encontros com ativistas brasileiros e internacionais. A um mês da conferência climática global, os temas das produções e dos debates abordam justiça climática, desenvolvimento sustentável e os direitos dos povos originários. Os ativistas indígenas Piratá Waurá e Txai Suruí posam juntos após participação em painel no Festival do Rio 2025. Festival do Rio / Davi Campana As sessões da mostra especial acontecem na Estação NET Botafogo 3, na zona sul do Rio de Janeiro, e no Centro Cultural Justiça Federal (CCJF), no Centro. Já as mesas-redondas e painéis com convidados acontecem no Estação Net Botafogo 1 e no Armazém da Utopia, em Santo Cristo. Também há exibição de curtas-metragens todos os dias no Museu do Amanhã, com sessões ao fim da tarde. A programação completa pode ser conferida no site do festival.

FONTE: https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2025/10/08/cameras-sao-os-arcos-e-flechas-da-atualidade-as-vesperas-da-cop30-producoes-culturais-indigenas-mostram-que-luta-pelo-planeta-e-de-todos.ghtml


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